Até onde devo me envolver com um cão que atendo?
Uma das questões mais delicadas do trabalho com cães é saber o limite das nossas atribuições, quanto ao serviço contratado (pet sitting, dog walking ou treinamento). Entender até onde devo me envolver com um cão que atendo foi um aprendizado de auto-preservação.
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Uma das questões mais delicadas do trabalho com cães é saber o limite das nossas atribuições, quanto ao serviço contratado (pet sitting, dog walking ou treinamento). Entender até onde devo me envolver com um cão que atendo foi um aprendizado de auto-preservação.
Normalmente, quem se dispõe a trabalhar com cães é porque gosta de animais (não vamos tratar das exceções aqui, ok?). E, à medida que vamos estudando e entendendo sobre o que é importante para eles e sobre o que, efetivamente precisam, começamos a perceber que a grande maioria dos tutores sabe ainda muito pouco sobre a espécie que tem em casa.
Essa falta de conhecimento pode ser bastante prejudicial para a qualidade de vida do animalzinho e nós, muitas vezes, podemos cair na armadilha de fazer concessões com as quais não nos sentimos confortáveis. Como por exemplo abaixar o preço dos nossos serviços pensando em torná-lo acessível para um tutor que chora descontos, só pra não deixar o cãozinho sem atendimento.
Ou, ainda, podemos cair na armadilha mais perigosa ainda que é começarmos a assumir responsabilidades perante esse cão que não são nossas responsabilidades. Que são responsabilidades dos tutores. Como por exemplo, nos preocuparmos em prover itens de enriquecimento ambiental fora do nosso contexto de atendimento, mesmo contra o interesse do tutor.
Já passei por situações em que eu emprestava brinquedos e comedouros recheáveis, emprestava equipamento de passeio… dava brinquedos. E quando chegava na casa, num próximo atendimento, as instruções de uso não estavam sendo cumpridas, havia resto de comida mofada, da vez que eu havia deixado o brinquedo e o cão estava claramente num nível de ansiedade e estresse pela falta da promoção do seu bem-estar que partia o coração!
Me sujeitei muitas vezes a continuar um trabalho que não evoluia porque os tutores, simplesmente, não desenvolviam as tarefas que eu pedia, entre uma aula e outra. O cão não evoluia. Eu não evoluia. Os tutores não ligavam.
Eu, no entanto, me desgastava tentando explicar os motivos de eu pedir que fizessem um determinado exercício, que interagissem de uma determinada maneira.
E o pobre do cachorro gritando como conseguia, destruindo, pulando, latindo loucamente, para tentar dizer aos seus tutores que algo não ia bem!
No início da minha carreira, eu tentava ajudar esses cães, até esgotarem as minhas forças! E quando elas esgotavam eu já não me aguentava fisicamente e o que era pra ser um trabalho que eu amava, muitas vezes se tornou um peso. Várias vezes, adoeci fisicamente por lutar uma guerra que não era minha!
Infelizmente!
As leis que determinam o que caracteriza maus tratos no nosso país não são muito animadoras. Os cães têm direitos às suas cinco liberdades mas, a cultura da humanidade está em plena ascensão em relação à empatia e respeito aos animais. A grande maioria ainda não entende que ajudar um cão a se desenvolver em todo seu potencial é um direito deste cão. Um dever do seu responsável (tutor). E pensa que água, comida e um teto já são suficientes para uma vida boa pra cachorro!
Não me entenda negativa! Acredito que as coisas estão muito melhores do que jamais foram! E logo, logo, estarão ainda mais!
Mas, é uma luta que devemos lutar com inteligência! Bater de frente com os tutores não os farão entender o que dizemos. Assim como assumir as responsabilidades deles também não!
Como diz a sabedoria popular: Só se ajuda quem quer ajuda!
Então, o objetivo de escrever sobre isso é pra te dizer que você não está sozinho! Que eu também já passei por isso! Mas, que eu aprendi a só dedicar meu esforço para clientes que estejam juntos comigo nessa caminhada, na mesma direção, não importando a velocidade.
Do contrário, eu tenho muita segurança e responsabilidade comigo mesma, com a minha sanidade mental e física, de dizer que não posso mais. Porque, se eu tentar fazer o meu melhor sozinha e o resultado não vier (porque possivelmente não virá já que eu tenho muito menos tempo com o cão que sua família) eles não pensarão duas vezes em culpar o meu trabalho!
Então, me permito dedicar esses meus bons esforços para as famílias que já estão num momento de vida em que são capazes de entender o que eu digo e de enxergar seus cães como seres que sentem e que têm necessidades próprias da espécie canina. Com os resultados dessas famílias, com o impacto positivo que esse cãozinho tiver no seu comportamento outras famílias similares me procurarão!
Quanto aos que ainda não estão dispostos, cabe a mim respeitar o seu tempo! E quando estiverem, que contem comigo!
Você já passou por alguma situação em que não conseguiu ajudar ao pet e se desgastou com isso? Me conte!
Gratidão e até a próxima!
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